sábado, 28 de maio de 2011

Paradoxo do Suicídio

 Posted: 5 05 UTC março 05UTC 2011 by marcosself in Assuntos PolêmicosDeus e a Existência,PsicologiaSocialViolência 
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Esse é um tema sombrio, difícil de falar, principalmente àqueles que possuem tal obsessão. Tentei sintetizar minhas opiniões sobre o assunto, este, que merece nossa reflexão e bom senso, posto que por uma palavra pode-se salvar ou destruir pessoas…
O suicídio é um desejo avassalador pela morte. Não devemos pensar que ele seja um desejo pelo além túmulo ou mesmo uma expectativa de paraíso celestial utópico.
A disposição mental que preconiza o suicídio é o desespero, a desesperança a angústia existencial, por isso puro escapismo. O suicida comumente age com flexibilidade perante o moralismo social, ele é geralmente um relativista de concepções rígidas, mesmo que viva debaixo de um total dogmatismo religioso ou puramente tradicional.
Existem sem dúvida muitas exceções porque o que de fato desencadeia o anseio pela morte é a angústia insuportável que sente com pequenos intervalos de alívio.
Assim sendo o indivíduo propenso a morte é um peregrino no deserto procurando alívio a todo custo. A gota d água o fará manifestar o ato insano de provocar a própria morte. Insano porque uma vez livre do entorpecimento mental do desespero o mesmo não mais deseja a morte. Nisso obviamente também existe exceção, existem aqueles suicidas convictos, dominados por uma idéia que eles tentam controlar até a certeza derradeira e quando não suportando mais, consumam o ato.
Esses são aqueles que planejam a própria morte, eles literalmente suprem um espírito melancólico misturando-o com a indiferença que sentem pela humanidade.
De fato reconheço um espírito melancólico em mim mesmo, devido a sensibilidade perante a dor, mas quando estava me perdendo  na intrigante questão do sofrimento humano (E quando falo de sofrimento, falo de todo tipo de sofrimento imaginável, todo o mal que pode acontecer, deve acontecer em algum momento da existência humana), a própria dor me fez perceber a interação necessária que deve existir entre você e seu próximo. Essa é a maneira mais pura de se lidar com os efeitos da melancolia, praticar o bem ao seu próximo, discernir a dor não como quem a absorve no mundo subjetivo fazendo dela um ídolo de seu santuário interior, antes sendo aquele que discerne o mal com espírito de inteligência.
Esta é a diferença da passividade e da ação.
Pessoas dominadas pela idéia do suicídio em uma mente que raciocina em círculos, simplesmente não conseguem sair do ciclo patológico que domina suas vidas. O pior é quando as mesmas não vêem isso como algo que evidencie sua patologia. Ora, olhar para a vida com certezas superficiais nunca convencerá o indivíduo de espírito suicida, ele é profundo porque vê a dor e vive a cada dia seu próprio velório, sua vida é uma celebração a deusa morte, ele acredita que mais vale a condição que permanece do que a dor temporária. Se a vida murcha gradativamente, então os bons devem morrer jovens. Mas atesto que isso é falácia, posto que viver pode ser uma condição necessária para o bem de outrem. Neste caso avalia-se o nível de egoísmo do indivíduo desejoso da própria morte.
Não existe heroísmo em entregar sua vida de maneira fútil e desproposital.
Se tiver que morrer morra por um causa que não inclua “bem” apenas a você mesmo. O suicida desgraça com sua família e amigos  porque morre uma morte fria. Eis a diferença do mártir e do suicida. Os mortos conclamam os vivos a celebrar a vida, mas os vivos em desespero convocam a própria morte para o caos derradeiro.
Nos mártires pulsa a força do espírito  num coração que arde por justiça, no suicida o gelo perfura a alma até que ela não mais suporte a confusão.
O mártir celebra a vida na própria  morte, seu sangue rega a terra e  semeia o melhor que há na criação.  O suicida derrama seu sangue para  nada, fora de tempo, como um  rendido ao sistema. Os mártires  morrem por não se renderem, sua  força interior torna-os destemidos,  convictos que a pequena fagulha  do amor transformará o mundo.
Mas o martírio não parte de uma convicção religiosa? Neste caso isso não demonstra que os mártires de cada religião são indivíduos contraditórios?
Certamente as religiões são contraditórias e morrer por uma ideologia que obviamente se acredite não gera tantos méritos. Assim sendo o verdadeiro mártir é aquele que da a vida pelos seus amigos, morre por valores incontestáveis. Nisto a própria contingência confirma tais palavras.
Mas e o niilismo?
O niilismo é uma força que em seu reducionismo, provoca a dúvida. O verdadeiro niilista inicialmente pergunta aquilo que ninguém teria coragem de perguntar, diferentemente do viciado em contradições que já não busca a verdade pela verdade. Assim o poder do niilismo é o de convencer os indivíduos da relativização dos valores. Ora, se os valores se relativizam então mesmo transcendendo uma ideologia impregnada de falácias, poderíamos morrer como mártires, mas inutilmente assim como os suicidas, posto que os valores a que atribuíamos universalidade, podem se fragmentar também. Fato é que um verdadeiro mártir não pergunta, tão pouco responde. Seu poder sensitivo numa intuição inexorável move sua consciência ao reconhecimento daquilo que jamais poderia negar.
Poderíamos perguntar se tal indivíduo não estaria mentalmente “seitificado” no sentido de ter uma mente dominada pela razão da seita em particular seja ela mística religiosa ou puramente humanista ideológica.
Mas teríamos nós, que avaliamos tudo com um olhar clínico, decidir se realmente a relativização de todos os valores se sustenta numa análise mais profunda.
Isso digo porque os símbolos utilizados, a linguagem, os clichês, o roteiro embora diferentes nos grupos e sociedades humanas, não nos remetem a um mesmo valor para distinguir o autentico do falso?
Usando o mesmo reducionismo no próprio niilismo, não o tornamos obsoleto?
Assim sendo os valores que julgam valores também serão julgados e no final teremos que admitir um valor real não individual, mas universal. Neste caso a morte do mártir que morre pelos amigos continua superior ao homem ou mulher que tira sua vida inutilmente.
O suicida nutre medos relacionados a temporalidade de forma exagerada. Medo de envelhecer, de sofrer com alguma doença degenerativa ou de qualquer situação que agrave sua dor psíquica. Isso é legítimo?
Sim, até certo ponto. Passar a fronteira da normalidade para obsessão é o verdadeiro problema.
A alma que enxerga a liberdade anseia por sua própria durabilidade, aqui encontramos o paradoxo da condição do suicida.
Ele deseja morrer por desejar se preservar, não suportando a condição humana. Idolatra sua condição patológica que por vezes é um erro fatal.
Dura coisa é provar o amargor do absinto, quando a vida nossa pretensa amiga nos trai, olhamos para ela e dizemos: “Eu achava que te conhecia, mas não lhe conheço…”
Neste pueril sentimento de abandono resta-nos apenas olhar para a morte e em seus olhos vazios fixar nosso lamento. No entanto a sedução mortífera que antes nos era absurdo e agora se faz patente deve ser resistida pela loucura da esperança.
Neste momento caem nossas máscaras e entendemos o quanto somos pobres, cegos e nus.
Estuprados pela dor perdemos o escrúpulo puritano e ansiamos adulterar com a morte. Mas um fogo ainda se sustenta, é a paixão pelo nosso primeiro amor. Encontrados em plena existência, mas num estado implacável de putrefação forma-se o paradoxo:
Queremos morrer, porque amamos a vida…
Na mente humana que só enxerga a matéria não restaria outra coisa senão a entrega do ultimo fôlego… Porém ela sente que ainda não é o tempo, ela precisa renovar suas forças, porque só mais um pouquinho de tempo o que há de vir, virá.
“Dá sustento ao cansado, e multiplica as forças ao  que não tem nenhum vigor.Os jovens se cansarão e  se fatigarão, e os  moços certamente cairão, mas os  que esperam no SENHOR renovarão as forças,  subirão com asas como águias, correrão e não se  cansarão, caminharão e não se fatigarão.”
Isaías 40: 29 – 31
Mas o suicida vai para o inferno na tradição Cristã?
Mais do que cristã, essa é uma tradição puramente católica, ora, não cabe a nós dizer quem será ou não salvo da danação eterna. Hoje se sabe que cada caso é um tanto atípico, posto que envolvem sentimentos diversos e complexos, embora apresentem muitas similaridades como destaquei aqui.
Portanto seria crueldade com a família do morto dizer que seu ente querido foi para o inferno devido ao dogma absolutista. Essa é simplesmente uma questão que não nos pertence, devemos antes de qualquer coisa encorajar e consolar quem perdeu seus amigos para o engano do auto-homicídio.
Essa visão pejorativa do catolicismo em relação às pessoas que cometem o suicídio vem do fato de que sua tradição exalta os mártires e condena veementemente o pecado da preguiça no sentido de melancolia ou rejeição ao dom da vida.
Aqui fiz uma distinção entre mártir e suicida, assim como mártir e auto-homicida ideológico (como é o caso dos homens bomba e dos guerrilheiros de plantão). Porém, cada pessoa pode num lapso cognitivo intuitivo mudar seus sentimentos e razões numa fração de segundos, além do que Deus mesmo conhece todos os elementos envolvidos e embora não justifique o ato, sem dúvida avalia caso a caso, afinal esta é obviamente a coisa certa a fazer, para que tudo pese conforme a sua massa na balança da vida.

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