sábado, 28 de maio de 2011

A Sabedoria do Movimento


Os médicos e educadores em sua grande maioria incentivam os exercícios físicos. No entanto no meio acadêmico o que mais vemos são pessoas fisicamente debilitadas. Isso não acontece porque estes indivíduos sejam unanimemente da terceira idade, mas sim porque mesmo em sua ciência estão sugestionados pela rotina.
Ora, a rotina de um estudante é justamente ficar horas e horas estudando, lendo e pesquisando.
Em termos teóricos são excelentes, mas em compensação na prática seus corpos estão debilitados, enfraquecidos pela falta de condicionamento físico, alongamento, ginástica, etc.
No meio eclesiástico a coisa se acentua muito mais, porque além do elitismo acadêmico em sua pesada rotina de estudos, os religiosos lidam também com a culpa da vaidade. Para alguns, seja conscientemente ou não, existe um padrão estereotipado para a espiritualidade. Para a maioria deles, homens e mulheres de fisicalidade não inspiram fé, inspiram mais as coisas mundanas. Aqui ainda vemos fortes traços da filosofia platônica, onde o corpo é renegado a mesma terminologia da prisão, do cárcere.
Esse estereotipo é alimentado não apenas pelos religiosos de vários seguimentos mas também pelas pessoas que são o avesso disso. Essa é uma cultura arraigada na mente das pessoas em geral. O individuo espiritualizado, por assim dizer, deveria sempre demonstrar debilidade, fraqueza na carne e certa feiúra, posto que este seria a antítese do homem carnal, forte, guloso e vaidoso. Porém a verdadeira espiritualidade não nos trás a prerrogativa antagônica, pelo contrário, demonstra estar acima dessas coisas. No cristianismo o Espírito milita contra a carne, mas no conceito paulino, a carne seria justamente o pecado e não o corpo como era visto no platonismo.
A sabedoria do movimento, portanto, não nega a estética, não nega a dança, não nega a força, posto que está mais do que provado que somos seres psicossomáticos, sim, somos a soma das partes e não uma parte ou outra.
O corpo tem sua importância na espiritualidade na medida em que não seja tido como veículo apenas, isso é justamente o oposto da religiosidade.
Movimenta-lo é a coisa mais correta a se fazer. A intimidade do corpo e do cérebro é de patamares inimagináveis. Se você trabalha sentado, deve perceber o quanto isso afeta a sua cabeça, gerando estresse e fraqueza embora não tenha se exaurido em atividades físicas. Já quando trabalha o corpo, a mente se tranqüiliza.
O Dr Drauzio Varella já dizia em uma de suas entrevistas, que o homem foi feito para se mover, para correr, para nadar, para caçar. Suas juntas compactas, seu corpo ereto, toda sua estrutura fisiológica foi feita para o movimento.
Já a verdadeira espiritualidade ensina o homem que detém a sabedoria do movimento a não se gloriar nisso, assim como ensina ao intelectual a não se gloriar em seu conhecimento.
O fato é que a humanidade e a arte precisam da estética do corpo. Veja que quando digo estético não me refiro a um rostinho sem rugas. Refiro-me sim, a coordenação motora e qualidade da expressão.
Quem pode negar que ver o Michael Jackson dançando lhe dava muita satisfação? Ora, o Michael não era nenhum sábio, nenhum orador eloqüente e suas idéias não eram tão brilhantes, mas sua comunicação corporal era extraordinária e tinha de fato sua importância na arte contemporânea.
Podemos dizer com toda certeza que isso não é pecado, pelo contrário, a negligência do corpo é que deveria ser vista com suspeita. No entanto não estou apregoando o narcisismo, Deus me livre de tal coisa, só estou dizendo que a repressão do corpo não se resolve por mera intelectualidade.
O racionalismo na era moderna fracassou justamente por não reconhecer o corpo e achar que todas as soluções de seus problemas estavam vinculadas a intelectualidade. Por isso a pós-modernidade relaxou esses conceitos e abriu maior espaço para a estética do movimento, no entanto extrapolou nesse sentido, fazendo com que os opositores tornassem novamente a radicalidade do não movimento na passividade corporal.
É obvio que ninguém é obrigado a fazer exercícios. Quem não quer fazer que não faça. Porém ele deve saber que uma caminhada, caso pudéssemos fazer medições desse nível, seria um ato de espiritualidade muito maior do que andar num automóvel.
O sedentarismo não é sinal de piedade, é sinal de consumismo e facilidades tecnológicas, nada tem a ver com a criação humana. Exercitar a piedade não significa deixar de exercitar o corpo, não á porque depreciar um pelo outro como se os dois fossem antagônicos. Não!
Os dois podem tornar-se antagônicos dentro de uma perspectiva doentia e unilateral e não dentro de um contexto humanitário. Repito que pensar nestas categorias não passa de influência platônica. Quando Deus criou o homem e a mulher ele disse: “E isso é muito bom” deixando claro que não criou primeiro o espírito para alojá-lo num corpo, de sorte que seres incorpóreos não são seres completos, digo isso na hipótese de a consciência permanecer por algum tempo sem o corpo. Se não fosse assim, esperar a ressurreição do corpo para os cristãos não passaria de uma tolice.
A expressão do corpo é legítima, mas como todas as coisas neste mundo (incluindo as chamadas “santas”) podem levar as pessoas a usa-lo com interesses escusos.
É bom pular num dia de calor, rolar no gramado, correr com uma leve brisa no rosto, tomar uma banho de chuva.
Quando eu era garoto adorava ousar e sair em dias de tempestade com minha Bike. Percorrer todas as ruas do meu bairro, mesmo com os relâmpagos assinando o céu. Isso me fez ter prazer e satisfação no cheiro da chuva, nas coisas da natureza.
Ora, o mundo é grande justamente pra ser percorrido, mas que graça tem percorrê-lo sem apreciar a viagem, posto que é a viagem a grande novidade e não o final do percurso.
Não tenho nada contra aviões, desde que não caiam, mas às vezes ir a algum lugar num salto veloz parece-me um tanto estranho, embora necessário nesse mundo globalizado. Alguns veículos geram tanto conforto em alguns casos que acabam por enfraquecer o corpo e consequentemente o cérebro.
Eu já disse aqui no meu blog e vou repetir. As crianças sabem das coisas. Você já viu algum pirralho parado? A todo o tempo ele se expressa com o corpo. Vê-los suar é a coisa mais natural do mundo.
Agora, eu lhe pergunto, a quanto tempo você não sua um pouco a camisa?
Obviamente dependendo da sua idade ou do seu estado físico os exercícios mudam radicalmente, porém, dentro de seus limites é bom faze-lo já que seu corpo foi projetado para isso.
 Não se esqueça da sabedoria do  movimento, afinal tudo é sabedoria  e a sabedoria com seu corpo não  está fora do contexto da vida.  Visto  que muitos já estão debilitados,  talvez paralisados e sem condições  motoras, mesmo assim nunca param  de se exercitar para não atrofiar o  músculo. Ora, você que tem essa condição e nada faz, deveria olhar para aqueles que não a tendo, fazem o movimento de sua alma brilhar neste mundo.
E para os que não tem condições de movimentar seu corpo… Bem sei que vossas almas se movimentam com muito mais ardor que os milhares de corpos sedentários deste mundo, tenha sua esperança viva e se mova dentro do impossível, posto que a força condutora está no espírito, e isso nenhuma academia poderia lhe ensinar.

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