quinta-feira, 28 de julho de 2011

Salmo pessoal: Consola-nos Senhor




Salva-me ó Senhor. Sou pó e ao pó voltarei. Hoje minha alma está aflita, rancorosa a beira da loucura e chora sem forças para conter as lágrimas. Sinto-me desestruturado como se os cacos da minha alma estivessem espalhados nesta carcaça de carne e osso. 


Estou fadigado, respiro pouco e com dificuldade. Mas foi assim que eu vi a ruína dos povos, vi as injustiças que acontecem nas terras antigas, onde jovens são apedrejados até a morte como se fossem criminosos e meninas são feridas em sua intimidade com o ferro do terror religioso de belzebu. 


Meus olhos se afundam em meu rosto, estou encovado como a morte, meus sonhos e desejos estão perdendo o fôlego  falecendo aos poucos. O peso do mundo está sobre mim. Não sinto alívio neste tempo onde verdugos açoitam a minha alma. Queria ser socorro, mas estou a me afundar como uma criatura miserável e falida. A natureza e o inferno castigam os povos e ao meu redor somente vejo pessoas rindo e se alegrando.


No entanto minha garganta está seca, mas não sinto sede. O olhar triste não me abandona e o pessimismo me assola. Não sei se ainda sou eu. 


Por que tentando me auto-afirmar e animar, a existência volta a me dar rasteiras?


Senhor dos exércitos não me entregues a esse espírito de covardia, que já destruiu tantas vidas.


Os muitos pedem-me para comemorar... Mas o que irei celebrar? 


Eis- me aqui desnudado diante do mundo, fragmentado sem sangue só areia...


Na sombra, na dor e na loucura... 


Como permanecerei andando nesta corda bamba me equilibrando sem se cansar e cair nos ares?


As potestades sopram seus ventos sobre mim. Elas se gloriam nas minhas derrotas. Se aproveitam das minhas dores e zombam de nossa verdade ó Senhor... Anseiam por me confundir...


Levanta-te meu Rei. Julga a minha causa e fortalece meu espírito. Minhas penas caíram, meu bico balança e o céu dos céus não passa de um muro de bronze.


Se minha sanidade cair e eu mesmo não souber quem sou... Ó Meu Pai, não te esqueças de mim, engolido pela existência, flechado pelo setas envenenadas da contingência, envergonhado pela morte injusta e vil de meus irmãos das terras antigas. Humilhado na cultura do espetáculo, entristecido pela minha fraqueza.


Venha ao meu auxílio e escreve essas palavras no grande livro, pois declaro que estou fraco e padecendo de profunda tristeza. Venha socorrer-me Deus, livra-me dos cães, dos tolos, das raposas. Encha-me novamente da alegria da tua salvação, para que como o salmista eu exulte na tua presença. 


Lembra-te da terra que padece pela seca e pela fome. E então eu salmodiarei com cantos e alegria.


Só tu me conheces ó meu Senhor e a Ti... Entrego meu espírito...


“E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração…” {Ef 5: 18-19}
Aqui Paulo nos ensina que os salmos não estão vinculados apenas aos efetivamente bíblicos. Salmos são expressões da alma desnudada perante Deus diante das coisas patentes da vida, uma das formas de o buscarmos em verdade. Neles não existe exatidão, teologismo, dogmatismo apenas o grito de uma alma que precisa falar a Deus, sem rodeios, sem ensaio, sem chavão. Por isso deixo aqui os que eu escrevi pelo que vivenciei, aceitando minha condição de humano totalmente humano, no entanto diante de um Deus totalmente Deus…

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